Pode uma marca desrespeitar todos os passos básicos que garantem a sua sobrevivência e continuar a existir?
Pode uma marca deixar de comunicar, não inovar, ignorar todas as tendências modernas de design e não desaparecer?!
Por muito que isso me custe: Pode.
A conclusão começou a nascer há cerca de uma semana quando cortava o cabelo no barbeiro habitual.Ali, enquanto o meu olhar vagueava pelos inúmeros produtos das prateleiras, reluzentes, coloridos e carregados de estrangeirismos, deparei com uma pequena embalagem - tímida, de azul tristonho, parecia pedir desculpa pela sua presença.
Na realidade, a sua deselegância chamava a atenção.
O seu nome: “444”, sim, “444”, assim mesmo como um qualquer presidiário.
Ah! O “4” “44”! (disseram-me que é assim que se deve pronunciar) dirão todos aqueles com mais de 55 anos.
Segundo reza, não a lenda, mas o meu barbeiro, até ao 25 de Abril, homem que era homem só usava o dito “444”. Não porque isso afirmasse mais a sua masculinidade, mas pura e simplesmente porque não havia mais nenhum.Como sabemos a revolução dos cravos trouxe consigo muitas mudanças, os after-shaves não foram excepção.
Ora com o advento dos Hugo Boss´s e que tais, o viril, mas algo desengonçado, “444”, rapidamente caiu no esquecimento das faces portuguesas.
Comentei este episódio com o meu irmão (isto porque entretanto comprei o “444”, ou melhor, a gama do “444”, que inclui, além da pomada de after-shave, uma pequena pedra branca hemoestática e um pequeno “pauzinho”, desculpem os mais susceptíveis mas não há melhor forma de o descrever, igualmente concebido para estancar o sangue) e ele confessou-me que usava a pasta dentífrica “Couto”, aquela das “gengivas fortes” – Pensei, mas o que é que leva um jovem de 23 anos a comprar a Pasta Couto, mais, onde raio é que se compra a Pasta Couto?!Será por causa de ser “o dentífrico que evita afecções da boca” como propalado na caixa? Mas, caramba, quantas pessoas sofrem afecções na boca?Bom, no caso do meu irmão, a escolha devia-se ao facto de ter feito uma investigação sobre pastas dentífricas e ter concluído que a Couto era a única que não testava o seu produto em animais (sorte a deles pensei eu).
Para esta história finalizar em beleza, eu poderia dizer que cheguei a casa do meu pai e ele foi mostrar-me o restaurador Olex, mas não, isso não aconteceu.
O que fizeram então estas marcas para que 30 anos depois, com o mercado inundado por poderosas marcas com investimentos publicitários milionários se mantivessem no mercado?
Nada. Absolutamente nada.
E esse foi exactamente o seu segredo – por quanto tempo mais se irão manter? Não sei, mas numa época em que os consumidores são diariamente sufocados com estímulos publicitários só as marcas com carácter é que conseguirão conquistar o coração dos seus consumidores.
Nota final: Apesar de muitas empresas nacionais optarem por esta estratégia, de ausência dela, ela não é muito aconselhável.
Links Úteis: http://www.feitoria.com.pt/ um projecto fantástico que congrega num site inúmeros produtos e artesanato tipicamente portugueses.
“…o que Portugal tem de melhor” é o seu mote.
Tiago Castro
24/01/2008
"UM BRANCO DE CARAPINHA LOURA?!"
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